Crítica: Animais Fantásticos e Onde Habitam

Só quem é fã de Harry Potter sabe a emoção de entrar em uma sala de cinema tendo consciência que a temática será aquela trabalhada com tanto amor por nossa querida J. K. Rowling. Difícil controlar a ansiedade e mais difícil ainda é escrever um texto falando de tal película tentando ser o mais imparcial possível. Se eu falhar, meu mais sincero perdão.

Nesta nova série que se inicia, o magizoologista Newton Scamander chega em Nova York com a missão de adquirir mais um animal exótico para sua coleção, que guarda com tanto apreço em sua maleta. No entanto, ao chegar em terras americanas, bate de frente com uma guerra iminente entre bruxos e trouxas, já que eventos sobrenaturais têm ameaçado a discrição do mundo mágico.

Depois de 15 anos do lançamento do primeiro filme da saga de Harry Potter, J. K. Rowling se arrisca voltando como produtora de um longa baseado em um livro que é mais um guia subsequente de sua obra original. Cuidadosa como sempre, desta vez ela aposta em uma temática mais adulta e voltada para aquele público juvenil que cresceu com Harry Potter, e que agora está beirando os 30 anos. Ainda assim, sem perder a essência da magia e do encanto. É como uma reverência à todo o público que a acompanhou durante todos esses anos.

Com a mesma roupagem dos oito filmes anteriores, Rowling consegue, junto com o diretor David Yates (o mesmo responsável pelos quatro últimos filmes da franquia original), trazer um universo completamente novo e atraente para o espectador, mesmo aquele que não leu o livro ou não acompanhou completamente a história anterior. Não há mesmice alguma, nem repetição de informações que já foram passadas. Embora o longa apresente muitos elementos novos, ele não soa como a introdução de um novo universo completamente do zero. Então não fica cansativo. Vai direto ao ponto.

FANTASTIC BEASTS AND WHERE TO FIND THEM

Por mais simplório que o roteiro pareça à primeira vista, ele tem muito espaço para desmembramentos e novas histórias. A introdução da magia em outro país é de grande sagacidade, mostrando as diferenças com o Reino Unido e trazendo o espectador ainda mais para perto. Por não se passar dentro de Hogwarts, como é o caso de quase todos os filmes da outra franquia, a sensação de magia é ainda mais próxima, mais real. E é simplesmente encantador.

A escolha de elenco também foi cuidadosa. Tenho minhas ressalvas quanto à Eddie Redmayne (mas quem não tem, não é verdade?). Ele é careteiro demais, cheio de expressões exageradas e trejeitos. Mas, como o personagem tem um quê de loucura e desleixo, combinou e funcionou particularmente bem, no final das contas. Sua parceira, Katherine Waterston se encaixa muito bem no papel de bruxa assustada e perdida. Mas o casal mais fofo e coerente do filme é protagonizado por Alison Sudol e Dan Fogler. Não tecerei maiores detalhes em respeito aos spoilers. Mas adianto que funcionam tão bem que conseguem brilhar mais que o casal principal.

A polêmica participação de Johnny Depp (que neste filme ainda é bem pequena) é bem coerente. Deixando de lado a questão pessoal dele como homem, artisticamente falando, ele foi uma boa escolha. Assim como Colin Farrel e Ezra Miller. Aliás, o elenco como um todo é brilhante e um deleite à parte.

Tentando manter a imparcialidade prometida no início do texto, devo confessar que o tom sombrio que perpassa todo o filme é, por vezes, desnecessário. A montagem também prejudica alguns momentos, cansando o espectador logo no finalzinho do filme (confere um ritmo disperso). Mas nada que chame a atenção ou que faça o filme perder o brilho. São meros detalhes.

Ao final, J. K. Rowling conseguiu trazer de volta o universo mágico de bruxos e trouxas com tamanha sabedoria que terá espaço de sobra para criar as histórias que quiser nos próximos quatro filmes já confirmados e anunciados desta franquia. Ela consegue honrar sua própria obra, mas, principalmente, honrar seus leitores. Uma excelente e reconfortante notícia para qualquer fã de Harry Potter.

Assista ao trailer!