Crítica: A Qualquer Custo

No início de A Qualquer Custo, o público acompanha a ação dos irmãos Toby e Tanner Howard, Chris Pine (da franquia Star Trek) e Ben Foster (de Os Indomáveis), em um dos assaltos que empreendem por agências bancárias do Texas. No outro lado da ação está Marcus Hamilton, papel de Jeff Bridges (de  Bravura Indômita), que está prestes a se aposentar e assume ao lado do parceiro mestiço, descendente de índios e mexicanos, a missão de levar os responsáveis pela limpa nos bancos à justiça. Independente do quão questionáveis são os atos dos personagens desse filme, todos são movidos por um senso de dever, cada um atende ao mesmo da sua maneira. Assim funciona a engrenagem de A Qualquer Custo.

O longa se apresenta como um western com as tradicionais marcações do gênero, com direito a ter como cenário da ação o interior do Texas, uma terra vulnerável aos fora-da-lei, mas que está sob a vigília de alguns homens honrados, um protagonista fazendo de um tudo para garantir o futuro da sua família e temas que gravitam em torno de valores como justiça, honra etc. Claro que aqui tudo ganha uma roupagem  do século XXI, com direito até a uma contextualização na crise financeira que tem reflexos até hoje, mas no fundo o que o longa deseja ser é um competente filme do seu gênero e o consegue cumprir a sua função com muita dignidade.

No comando do título está o diretor escocês David Mackenzie, de filmes pequenos como Sentidos do Amor e Jogando com Prazer, ou seja, nada que prenunciasse que em sua carreira ele estaria destinado a dirigir um western como este. E Mackenzie faz isso com muita propriedade, compondo soluções visuais que oscilam entre a beleza plástica e a eficiência na orquestração das suas exemplares sequências de ação, sobretudo àquelas que jogam a dupla interpretada por Pine e Foster em caçadas policiais. O realizador ainda tem a seu favor um roteiro econômico e preciso de Taylor Sheridan, que não perde tempo com firulas verbais, mas ao mesmo tempo consegue desenhar com complexidade e com um certo pragmatismo os caminhos da sua trama e as motivações dos seus personagens.

No terreno das atuações, A Qualquer Custo conta com um trio de atores que faz toda a diferença no resultado do filme. Chris Pine agarra uma rara oportunidade de interpretar um protagonista que inspira empatia na sua trajetória sem mostrar-se como uma figura isenta de qualquer ranhura de caráter, tendo a sua honradez na consciência de que suas ações extremas não são exemplo algum para seus filhos. Ao lado de Pine, o público tem Ben Foster, um ator acima de qualquer suspeita, já que não é de hoje que entrega performances fascinantes ainda que não tenha o destaque merecido em seus títulos, e que aqui compõe mais um tipo interessante, um criminoso igualmente consciente dos caminhos tortos da sua vida, mas, diferente do irmão, se inebriando pela adrenalina da fora-da-lei. Na outra ponta da história, Jeff Bridges cumpre com autoridade sua farda de xerife em um tempo que parece funcionar sob uma lógica circular que não tem previsão para se extinguir.

Ao final do longa, fica claro que os tempos são outros, mas que certas coisas nunca mudam. A mola propulsora das ações de Toby Howard (Pine) é a terra, àquilo que dará a seus filhos uma dignidade que ele e seus antepassados nunca tiveram. No final das contas, os personagens de A Qualquer Custo são velhos conhecidos apesar de inseridos em um outro contexto que transforma seus cavalos em pick ups ou conversíveis e que os faz transitar em cassinos e restaurantes de beira de estrada no lugar dos antigos saloons. É de encher os olhos e os corações de qualquer fã de western.

Assista ao trailer do filme: